SPUTNIK

Sustentabilidade empresarial como regra: quando dá match entre a empresa e a responsabilidade ambiental

Ser sustentável (de verdade, sem “lavagem verde”) nas empresas está se transformando em regra aos olhos da sociedade, cada vez mais exigente ― e com razão. Não basta preencher a parede com certificações ISO: é preciso provar que a sustentabilidade empresarial é a verdadeira dona do jogo dentro dos negócios. A seguir, vamos contar como é possível fazer a lição de casa e, mais que isso, ter em mãos uma ferramenta potente de inovação. Com direito a um case de sucesso e tudo — para que sua empresa se sinta motivada a sair do sofá o quanto antes para fazer acontecer.

Sustentabilidade empresarial: como chegamos até aqui 

Vamos viajar no tempo e voltar algumas décadas para entender de que forma a sustentabilidade empresarial começou a ser costurada aos poucos, até chegar ao artigo de luxo que conhecemos hoje ― e que deve se tornar o figurino básico de qualquer empresa daqui em diante. Pronto, chegamos em 1987. Foi o ano em que a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), publicou o Relatório Brundtland, também conhecido como Our Common Future (em tradução livre “Nosso Futuro Comum”). O trabalho foi publicado após duas décadas de discussões iniciais sobre os impactos das revoluções industriais sobre o meio ambiente. Ele trouxe a primeira definição de desenvolvimento sustentável, muito utilizada até hoje, colocada como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

A partir daí, temos recomendações para diversos núcleos da sociedade. Não faltou, portanto, um conjunto especial de indicativos para a sustentabilidade empresarial. Nesse caso, o relatório pontua a importância de trabalhar o desenvolvimento sustentável como um ponto de partida para um novo sistema de produção, em que impere a necessidade de produzir sem trazer danos ao meio ambiente. E, principalmente, a partir de uma concepção estrutural de mudança que reeduque todos os níveis da organização. 

Nos anos 90, enquanto o mundo realizava suas conferências globais, o universo dos negócios começou a ficar mais atento aos debates sobre desenvolvimento sustentável. Se a Eco-92 ficou conhecida como a conferência de onde saiu a Agenda 21, também encontramos nela o surgimento da The World Business Council for Sustainable Development ou, em português, Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável.  Formada por cerca de 200 empresas, a organização ajudou a formalizar a importância da sustentabilidade empresarial na luta pelo meio ambiente, algo que foi fortalecido com estudos teóricos que ficaram famosos na época, como o conceito de “tripé da sustentabilidade”, criado por consultor britânico John Elkington. A ideia engloba:

  • Elemento Social – as relações estabelecidas entre as empresas e o capital humano relacionado ao seu trabalho. 
  • Elemento Ambiental – o capital natural utilizado ou pertencente a uma empresa. 
  • Elemento Financeiro – o lucro ou os resultados positivos da empresa.

Nos anos 2000, a ONU também criou o UN Global Compact, uma campanha para motivar empresas do mundo todo a criarem políticas de responsabilidade ambiental e social. E, a partir de então, certificações governamentais ou de organizações de renome do Terceiro Setor passaram a ser usadas como métricas e metas para que empresas baseassem seu compromisso com a sustentabilidade empresarial e começassem a pensar nela como uma estratégia de negócios, algo que até hoje é um desafio. 

Ativista pelo meio ambiente, Pedro Telles é Coordenador de Projetos Internacionais no Greenpeace e também é responsável pela gestão de projetos no Rio+B, consultoria de desenvolvimento sustentável para o mundo corporativo. Para ele, pensar em sustentabilidade empresarial é levar as empresas de volta ao seu papel como agente social em um momento que requer muita urgência. 

“Não podemos mais viver enquanto o governo faz ou enquanto uma ONG faz. Todas as forças precisam estar redirecionadas para a resolução dos problemas porque não temos mais tempo. É aquela famosa frase que diz que a primeira geração tem as informações e as ferramentas necessárias para a resolução de problemas e, também, é a última que tem a chance para resolvê-los. Depois das famílias, as empresas formam o segundo modelo de organização humana, então o papel delas é muito importante nesse contexto em que vivemos”, alerta.

Pedro reconhece algumas barreiras quando o assunto é trabalhar com a sustentabilidade empresarial como modelo estratégico de ação. Segundo ele, ainda é muito forte a dicotomia entre lucro e impacto, além da adoção de métodos de trabalho que não levam em conta fatores externos às produções de trabalho, como as limitações de recursos naturais. Por isso, ele exemplifica o trabalho da Somos B em trabalhar com a qualificação dos métodos de mensuração do impacto promovido pelas empresas.

“Aqui trabalhamos sob o princípio de estabelecer métricas para todos os processos de produção das empresas. Ensinamos que elas vejam que todo produto feito já causa o seu impacto negativo sobre o meio ambiente e que o desafio é pensar em como reduzir danos e impactar de forma positiva em todas as etapas do negócio, saindo do mito de que impactar positivamente é reduzir lucros”, explica. 

Uma história de brilhar os olhos

Consultora especializada em moda e desenvolvimento sustentável e CEO da Cora, Laura Madalosso destaca uma história inspiradora: a da Mercur, marca da borracha que fez parte da nossa infância na escola. A empresa publicou um e-book em que conta os bastidores da reformulação da sua cultura organizacional a partir de uma estratégia de sustentabilidade empresarial. 

Fomos atrás e o exemplo realmente nos mostra o que pode ser feito quando temos os instrumentos certos em mãos. Com uma trajetória de nove décadas, a Mercur ficou conhecida por ter inovado com o uso da borracha em diversas âmbitos: para contextos escolares, para o setor automobilístico, vestuário, entre outras áreas. Buscando se renovar-se, a empresa, no final dos anos 2000, procurou uma consultoria estratégica para delinear uma estratégia “humano-sócio-ambiental”: sustentabilidade a partir de uma perspectiva humana ou que não aceitasse hierarquias e trabalhasse por uma abordagem horizontal de decisões. Foram criados colegiados compostos por colaboradores de diversos patamares hierárquicos, iniciando um ciclo intenso de estudos e trocas mútuas, que ficou conhecido como Virada da Chave

Também aconteceu um resgate às origens: a empresa buscou suas missões e valores, que foram desenhados ainda nos anos 20, e passou por um instante de autocrítica fundamental para atualizá-los.

A partir da criação de diversos núcleos de atuação, a Mercur buscou mapear seu impacto humano-social-ambiental (lembra do tripé de sustentabilidade? Taí uma prática). No nível ambiental, vale olhar para o plano de direcionamentos estratégicos implementado por eles, que contemplou as seguintes etapas: 

  • Insumos não-renováveis: passaram a ser substituídos por outros renováveis na produção da empresa. A prática surge sempre que um produto novo será criado ou na melhoria dos já existentes. Nos casos em que a troca não é possível, a empresa estuda formas de reduzir a quantidade de material usado no produto.
  • Ocupação e Renda: criação de modelos de negócio paralelos que buscaram alcançar a comunidade local, estreitando o relacionamento da empresa com o espaço ao seu redor. 
  • Importações: passaram a ficar em segundo plano, vistas como um último caso, ou seja, importar só quando não existirem possibilidades oferecidas pelo mercado nacional.
  • Logística Reversa: sim, eles tentam trazer de volta a matéria-prima dos produtos já saídos de fábrica. Com essa prática do “retornável”, conseguem reaproveitar materiais.
  • Empresa carbono neutro: redução da emissão de gases de efeito estufa para um limite de 3.145 tCO2e (toneladas de CO2 equivalente).
  • Testes com organismos vivos: a Mercur passou a boicotar a prática em todas as suas etapas dos processos produtivos.
  • Espaço de Aprendizagem e Plano de Educação: também há espaço no plano de sustentabilidade empresarial da Mercur para a criação de iniciativas de aprendizagem a serem oferecidas aos colaboradores. Temos, de quebra, um texto para você mergulhar no mundo do desenvolvimento pessoal de colaboradores bem aqui

E, por fim, é importante ressaltar interações intensas com ambientalistas, que sentaram com os colaboradores da empresa para, juntos, fazerem testes, avaliações e sugestões para os novos produtos que foram desenhados a partir da nova perspectiva inovadora da Mercur para sua produção. 

O trabalho de sustentabilidade empresarial desenvolvido pela Mercur nos ensina a importância de trabalhar de forma sistêmica e a partir do diálogo. Afinal, a empresa movimentou diversos setores e níveis hierárquicos de ocupação para que a mudança não fosse apenas limitada ao processo, mas ao mindset da organização. 

Uma sustentabilidade empresarial para chamar de sua

Agora, você deve estar se perguntando se sua empresa é capaz de vivenciar uma revolução de tamanho fôlego. Como todas as mudanças, inovar pela sustentabilidade empresarial é um verdadeiro trabalho de formiguinha, principalmente quando levamos em  conta que estamos diante de uma nova estratégia de vantagem competitiva. Mas temos uma boa notícia: podemos potencializar a mudança que sua empresa precisa a partir da sustentabilidade. Nosso Impact é um curso com módulos em que trabalhamos o sustentável como mindset de inovação. Vem bater um papo cohttps://sputnik.works/curso-impacto-positivo/m a gente para entender mais sobre essa experiência.

O presente das empresas do futuro