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Comunicação não violenta: uma forma mais empática de nutrir seus diálogos por aí

Já reparou como estamos cercados por ruídos? É o barulho do trânsito, da televisão na padaria, das conversas no ônibus ou no metrô, as notícias pelo rádio enquanto estamos no carro, presos no trânsito. Mas tem também, em especial, os ruídos que nascem das falhas no diálogo em situações de muito estresse e de pouco tempo para resolução de mal-entendidos. Nesse sentido, a comunicação não violenta (CNV) propõe um novo paradigma nos relacionamentos: é moldada a partir do diálogo e da escuta ativa, com a empatia como palavra-chave.

Existem diversas estratégias que podem ajudar a colocar em sintonia os diversos fluxos de energia e de necessidades do time. A experiência proporcionada pelo curso InSano, por exemplo, é um convite da Sputnik para você congelar o tempo, nem que seja por um minuto. Pare e indague: para onde vamos com a nossa busca incansável por metas? Vale a pena a exaustão coletiva gerada por nossos resultados? Permita-se conhecê-lo junto com sua equipe.

Abaixo, vamos contar porque acreditamos que é necessário apostar as fichas em uma forma afinada de se comunicar, principalmente quando o que está em jogo é o resgate de laços entre os colaboradores.

Afinal, o que é a comunicação não violenta?

Anos 60, década de muitos questionamentos e embates por direitos civis. Crescendo em uma sociedade totalmente segregada pelo racismo, o psicólogo Marshall Rosenberg começou sua carreira no olho do furacão, quando alguns grupos passaram a combater de frente a violência da desigualdade, sobretudo em espaços educacionais em que ele trabalhava.

Foi nesse período de transições que Rosenberg começou a desenvolver as técnicas que culminaram no desenvolvimento da comunicação não violenta, que passou a ser aplicada na resolução de conflitos em seu contexto de trabalho, a princípio, para depois expandir para outros contextos sociais. Duas décadas mais tarde, o psicólogo tornara-se mundialmente conhecido e já havia inaugurado um centro com estudos dedicados ao tema — que, hoje, conta com filiais em muitos países, inclusive no Brasil.

A CNV parte do princípio da restauração de experiências compartilhadas por meio da troca de palavras de forma leve e positiva. Aqui, a pausa é um fator fundamental em que dispensamos o uso de respostas imediatas ao que nos dizem em troca de uma reação que valorize o espaço e a ponderação. Nesse processo, encontrar compaixão e empatia impulsiona diálogos que vão trabalhar o ganha-ganha nos relacionamentos.

Dessa forma, enxergamos práticas violentas de fala sob um novo prisma: o da urgência por resolver necessidades, uma vez que, muitas vezes, nossas ações coercitivas são realizadas no automático e em situações de grande pressão ou ânimos aflorados. Ao mesmo tempo, o conflito surge, segundo Rosenberg, a partir do momento em que as estratégias para suprir necessidades diversas entram em colapso sem uma oportunidade para encontrar, cada qual, o seu espaço para se manifestar. Reconhecer a importância do tempo de resposta, portanto, é um passo decisivo para fugir de uma conduta nociva de conversa.

A comunicação não violenta parte do princípio de restabelecimento de relações em três âmbitos — no pessoal, no interpessoal e entre grupos e sistemas sociais. O conceito já teve ser poder aplicado nas mais diversas situações: resolução de dilemas escolares, criação de técnicas de meditação e relaxamento e, até mesmo, para salvar países inseridos em conflitos. Rosenberg chegou a viajar para ajudar em processos de pacificação pós-guerra na Ruanda, Croácia, Bósnia, entre outros. Não é à toa que hoje muitos governos adotem estratégias de CNV para a implantação de táticas específicas em contextos políticos conturbados.

Sabe o que isso significa? Que podemos abraçá-la, sem medo, para aliviar tensões no escritório.

Decifrando os mecanismos

Ao desenvolver os preceitos da comunicação não violenta, Rosenberg estabeleceu quatro componentes básicos para a prática: 

Observação

Neste ponto, é importante ouvir sem julgamentos e prestar atenção apenas ao que está diante de nós, independentemente de juízo de valor pessoal que possa ser aflorado a partir do nosso contato com os fatos. Deixe-se atrelar os acontecimentos apenas ao tempo e às circunstâncias ou contextos em que eles ocorrem.

Sentimento

A ideia busca libertar os sentimentos de pensamentos interiores ou do que acreditamos que foram concebidos por outras pessoas sobre nós mesmos. É uma forma de permitir que o que sentimos aflore para a outra pessoa, a partir do momento em que criamos mais clareza e coragem para entender o que de fato queremos, de uma forma dissociada ao que acreditamos que deveria ser correto sentir ou priorizar entre nossas necessidades. Vale observar a todo momento o que sentimos a cada interação e, após essa auditoria interna com nosso ser, buscar compreender como encaixá-lo às negociações com o outro.

Necessidades

Admitir, tal como já comentamos, que nossas ações, no fundo, urgem em atender às nossas necessidades.

Pedidos

É não ter medo de jogar limpo quanto ao que queremos. Fazer um pedido, diferentemente de manifestar uma demanda, é expressá-lo enquanto estiver preparado para uma situação em que ele não seja atendido, sem forçar sua resolução. E diante da negativa, começa a negociação. A CNV ajuda a trabalhar a resiliência e a objetividade no diálogo, em busca de uma resposta próxima aos nossos desejos.


A partir desses conceitos, encontramos a aplicação da CNV sob os seguintes estágios iniciais, que vão sendo adaptados conforme a situação:

Autoempatia

Antes de exercer a empatia com o outro, precisamos avaliar se estamos conectados dessa forma com nós mesmos. O que significa reconhecer de que forma nossos pensamentos, queixas e sentimentos refletem, de fato, necessidades que carregamos e que, por vezes, acreditamos ignorá-las.

Interagir com empatia

Um princípio básico da CNV, a empatia é abrir a porta da casa para o próximo. É convidá-lo a despir seus medos, angústias e necessidades sem ter ninguém filmando-o ou escrevendo notas de julgamento. Aqui, é importante ouvir sem tentar uma compreensão desenvolvida por fatores extrínsecos à escuta, como nosso pensamento pré-moldado. Antes de avaliar e tomar o próximo passo, leve-se pela narrativa daquela pessoa. Esgote o que as palavras e a energia alheia trazem, para, a partir daí, buscar outras ferramentas de conexão com a necessidade que veio até você.

Honestidade no ato da fala

Nesse tipo de linguagem, não há espaço para joguinhos ou mensagens subliminares. É necessário clareza e objetividade para expressar o que quer, pois, de outra forma, será mais difícil esperar uma atitude empática ou negociadora do outro.

Vamos mobiliar o seu espaço de escuta?

No dia a dia das reuniões e dos deadlines a serem cumpridos, é possível estabelecer uma comunicação não-violenta entre os colaboradores?

Muitas vezes, acreditamos que a gestão de conflitos deve ficar limitada às lideranças dos times. Mas com a CNV, todos passamos a ter uma autoridade maior na arte de negociar em todos os nossos relacionamentos. Dessa forma, praticá-la é uma forma indireta de conquistar autonomia do time, uma vez que vocês terão em mãos uma ferramenta que dispensará mediações maiores e externas, salvo em contextos mais conturbados de negociação. Temos um caminho para poupar processos e estreitar relacionamentos, o que será decisivo para o engajamento e a produtividade do time.

Mas cultivar esse pensamento é estar disposto a reconstruir o seu mindset de posicionamento diante do mundo. Tarefa que, a princípio, pode ser árdua e dolorosa. Tal como as maiores vitórias da vida. Para diminuir o choque diante da premissa da CNV, temos algumas dicas para ambientar-se na prática:

Tire a máscara

Não tenha medo de expor suas fraquezas ou vulnerabilidades. Você não precisa estar certo ou ter as respostas o tempo todo. Baixe a guarda. 

Pratique a arte do autoperdão

Não se cobre demais diante de erros ou de dificuldades para lidar com uma situação. Afinal, de que forma você vai conseguir estabelecer um canal franco de conversa com o colega se, para você mesmo, não é possível se dar segundas chances?

Transmita sua insatisfação aos poucos

Não seja dominado pela raiva. Está insatisfeito com a atitude do colega ou do time? Respire fundo, olhe ao redor, acione suas necessidades e entenda por que elas foram prejudicadas pelas ações da outra pessoa. E, a partir disso, manifeste de forma clara e sem rodeios, mas sob uma premissa de entender, a todo momento, por que a situação aconteceu.

Acima de tudo, respire em primeiro lugar

E quando ainda estamos inseridos em um grupo que não é adepto da comunicação não-violenta? Diante de um ataque, respire, não revide. Pratique intervalos lentos de inspiração e respiração, enquanto busca absorver as palavras que recebeu. Lembre-se do espaço e do tempo de resposta, busque entender as motivações do interlocutor e, por meio da compreensão, deixe que suas necessidades se manifestem aos poucos, em direção a uma defesa conciliatória e objetiva.

Sim, é possível trazer serenidade às conversas ruidosas do dia a dia. Deixe o seu canal de diálogo se transformar em uma abertura fluida de generosidade e paciência, como se você pudesse trazer para o concreto do escritório uma brisa capaz de oxigenar o ambiente, renovando engajamento e propósitos que muitas vezes se perdem entre os papéis e post-its da rotina.

Agora você já algumas ferramentas para aplicar a CNV no seu ambiente de trabalho. Com todos envolvidos, façam testes e vivam os resultados de uma rotina mais leve e acolhedora. Depois vem contar para gente o resultado. 🙂

O presente das empresas do futuro