Você empurra tarefas dia após dia? Entenda o que é procrastinação
Manter os níveis de engajamento lá no auge não é uma tarefa fácil. Vivemos em um mundo hipersensorial, que nos agita com excesso de sons, imagens, palavras e, sobretudo de informação. Como manter o foco? No Flow, a equipe da SPUTNiK ajuda a fazer do tempo o nosso melhor amigo. Aqui, a gestão do tempo é o segredo para uma equipe mais produtiva e feliz — e que vai para casa cedo, sem culpas.
A seguir, conheça um pouco sobre uma velha conhecida: a procrastinação. Mas, calma, aqui, sabemos por onde correr. Vem com a gente.
SPOILER: Procrastinação não é Preguiça
É a tela em branco. A conversa que nunca acaba na mesinha do café. É o soninho depois do almoço. Os testes de personalidade da internet ou, até mesmo, o horóscopo do dia. A procrastinação não tem hora nem formato próprio. Ela chega em peso e, quando menos esperamos, rouba as nossas horas e a nossa produtividade. Podemos defini-la como aquele estado letárgico em que temos mil ideias e tarefas na cabeça, mas nada na mãos para começá-las, inclusive aquele impulso tão necessário que, muitas vezes, chamamos de motivação, ou iniciativa.
Até parece que a procrastinação é um fenômeno nativo dos nossos tempos, não é mesmo? Afinal, estamos na era das maratonas de série, dos podcasts infindáveis, das newsletters e de outras fontes de conteúdo que, de fato, competem com nosso tempo produtivo de trabalho. No entanto, a procrastinação é uma velha amiga da Humanidade, sendo alvo de estudos durante séculos.
Navegando um pouco para alguns séculos atrás, é sabido que um dos maiores gênios da História, Leonardo da Vinci, era um grande procrastinador: movido pela curiosidade e pelo perfeccionismo, o intelectual dedicava mais horas buscando o âmago das questões que circundava suas obras artísticas e científicas do que as executando. No seu pescoço, sempre carregava consigo um caderninho para anotar as diversas ideias que carregava para cima e para baixo. O apreço por divagar, no entanto, não impediu que Da Vinci deixasse, para a Humanidade, um legado que até hoje salta aos olhos, desde a Monalisa até seus estudos em diversas áreas do conhecimento. Nesta página, inclusive, encontramos histórias de outras personalidades que também estabeleceram uma relação tempestuosa entre sua produtividade e o tempo e, ainda assim, produziram obras-primas em vários campos.
Se a procrastinação, nesses casos, pode ser considerada um sinônimo de uma busca desenfreada pela perfeição (e que já começa sem vitórias), é hora de contar sobre o seu lado devastador — e do qual precisamos focar nos próximos parágrafos. Afinal, não estamos diante de uma crise generalizada de preguiça. A procrastinação, na verdade, abre caminhos para vários problemas que carregamos dentro de nós.
No TED Por dentro da mente de um mestre na procrastinação, o escritor Tim Urban conta suas experiências com a procrastinação de forma bem-humorada, mas bem daquele jeitinho que sabemos, em que um riso esconde uma lágrima. É impossível não se identificar com a figura do Tomador de Decisões Racionais, que existe no nosso cérebro, sendo influenciado pelo Macaco das Gratificações Instantâneas a abandonar o volante, entregando-o para o nosso amigo que vai, aos poucos, nos conduzir para um caminho muito distante da realização de nossas tarefas, o que Urban chama de Parque Obscuro, ou seja, a realização de atividades prazerosas em momentos inadequados e que, ao final, nos leva a uma sensação de ansiedade e de culpa. Até que o Monstro do Pânico chega, avisando sobre nossos prazos apertados e de como ainda estamos a quilômetros de distância da conclusão das nossas tarefas e, desesperado, tenta nos colocar no caminho certo antes que o tempo acabe.
Então chegamos, portanto, na rota, tal como define o especialista no tema, o psicólogo Timothy Pychyl, na lacuna entre a intenção e a ação. O mesmo estudioso alerta, inclusive, que estamos diante de um mal que afeta não apenas nossos compromissos sociais, mas nossa saúde física e mental.
É importante compreender o que pode nos levar à procrastinação. Cada caso é um caso, mas encontramos alguns sintomas que podem ajudar a entender o que está acontecendo:
Perfeccionismo — a síndrome do momento ideal
Tal como acontecia com Da Vinci, podemos estar sofrendo de alguma mania por buscar algo que não vamos encontrar: o ponto perfeito para nossa tarefa. Mas não há momento ideal. Antes feito, do que perfeito.
Angústia diante de grandes responsabilidades
É uma síndrome do impostor que nos acomete. De repente, nos convencemos de que não somos capazes, e ponto final. Quando nos delegam grandes tarefas, buscamos atalhos para não realizá-las. Podem ser desde uma preparação sem fim — e, quase sempre, injustificável — ao que não vamos começar nunca ou, até mesmo, uma busca por lamentos ou outros recursos que possam, até o fim, nos afastar ao cumprimento das atividades. No fundo no fundo, é o medo de crescer ou de não ser capaz de encarar a vida de frente. Ou falta de trabalhar a nossa autoestima diante de momentos decisivos de transição na nossa vida.
Problemas emocionais ou com a saúde
Aqui, chegamos, inclusive, ao que podemos identificar como o verdadeiro toque na ferida. Muitas das crises de procrastinação que nos acometem ocorrem por causa de nossa dificuldade em gerenciar diversas emoções negativas. O que justifica, também, por que não consideramos a procrastinação como uma crise generalizada de preguiça. Aqui estamos diante de um problema que está muito mais próximo a um sintoma de que algo não vai bem na saúde. Um estudo da Universidade de Leuphana identificou que a nossa capacidade de lidar com emoções negativas, podem estar diretamente ligadas a uma capacidade de resistência diante da procrastinação. Algo que, em momentos difíceis da nossa vida, seja por acontecimentos ou, até mesmo, por problemas de saúde que afetam nosso bem-estar mental, são quase impossíveis de ser gerenciados. Ou seja, não é a nossa culpa. Mas é um sintoma de que algo não vai bem e de que está na hora de buscar ajuda.
Modos de driblá-la
E terminamos com uma boa notícia: hoje, a procrastinação é reconhecida como algo tão presente no dia a dia de todos que não faltam ferramentas e outros inputs para combatê-la. Trouxemos algumas delas que vão ajudar de diferentes formas, acionando áreas distintas do nosso corpo e da nossa mente:
- Em primeiro lugar, o reconhecimento facial: é qual tipo de procrastinação, mesmo?
A procrastinação, como sabemos, é muito parecida com a preguiça, mas, é muito mais do que isso. Ela possui diversos níveis de complexidade, e é preciso saber identificá-los para tomar a medicação mais adequada. O atraso da tarefa, por exemplo, pode ser inevitável, ou seja, sobrecarga de atividades, necessidade por mais informações para a execução e outros problemas tornou inevitável a perda do controle sobre a situação.
Também temos a situação em que a procrastinação vem por causa de um desejo (e um tanto perigoso, digamos), de adrenalina, em que a pessoa de fato gosta de deixar tudo para última hora. Há também um sentimento de vício para ter o Macaquinho das Gratificações Instantâneas ao nosso lado o tempo todo, ou seja, uma procrastinação que ocorre porque não conseguimos abrir mão de nossos prazeres em primeiro lugar.
E, finalmente, temos a procrastinação que é filha dos nossos problemas psicológicos e aqui cabe entender as emoções e julgamentos individuais que estão dando espaço para ela. Para Fuschia Sirois, professora e psicóloga na Universidade de Sheffield, no Reino Unido, uma situação recorrente é a fuga do humor, em que adiamos tarefas porque não conseguimos driblar sentimentos negativos. E, aqui, é muito importante medir se não é o momento de pedir ajuda.
- Então dê o primeiro passo
Sabe todas as manhãs, quando encontramos aquela dificuldade para sair da cama? Não sentimos uma sensação de vitória quando conseguimos sair do loop da sonecar e, finalmente damos o primeiro passo em direção ao novo dia? Procure fazer a mesma coisa com a procrastinação. Dê um primeiro impulso que, com certeza, você vai entrar em um modus operandi de trabalho sem fim. O segredo aqui, é agarrar-se em tarefas pequenas, que, a princípio, não vão despertar o macaquinho compensador do seu eu. Quando você menos esperar, já estará no próximo nível de dificuldade da tarefa. E não encontrará freios para concluir sua tarefa.
- Estabeleça estratégias de combate
Faça uma lista mental, se possível também escrita, do que pode acontecer se você não entregar suas tarefas. Terá perdas emocionais e financeiras? Não vai curtir a breja do fim de semana, pois a mente ainda estará presa à atividade que não conseguiu concluir? É um exercício para lembrar o quão tortuoso ficamos quando estamos presos no Parque Obscuro. Uma ótima desculpa para deixar a procrastinação de lado.
- Adote o Mindfullness como mantra
Uma das técnicas mais utilizadas para combater stress, ansiedade e outros problemas de saúde crônicos, o mindfullness também pode ser um poderoso aliado no combate à procrastinação. Adote exercícios em que você possa sentir, e estudar, a sua respiração, por meio de práticas de meditação que, aos poucos, vão ajudar a ter mais foco e concentração diante dos barulhos do cotidiano. Hoje, há vários exemplos de exercícios no Youtube que podem servir como uma introdução da prática. Se jogue.
- Use e abuse da tecnologia: adote aplicativos de gestão de tempo
Encontramos diversos aplicativos de tecnologia no mercado, que adotam vários conceitos de gerenciamento de tempo. Um dos mais populares é a prática do Pomodoro, que consiste repartir tarefas em intervalos de tempo.
Seguem alguns exemplos de aplicativos:
- Be Focused (iOS)
- Meu Pomodoro (iOS e Android)
- Flat Tomato (iOS)
- Cuckoo (iOS e Android)
- Focus Timer Reborn (Android)
- Não se reprima
Ainda assim, não consegue encontrar o foco? Não se culpe. Não caia na armadilha de, a cada momento de fracasso, considerar-se o maior perdedor do mundo. Uma dica é tentar externalizar esses momentos, entender como eles aconteceram. Pare, respire, anote. E cole em post-its na parede do quarto, ou até mesmo do escritório. Serão recados amigáveis de que, na última vez, sua procrastinação foi o impedimento para um dia útil ou satisfatório. E que você, dessa vez, terá mais forças para pará-la.
- Imagine o seu eu do amanhã — e comemore quando alcançá-lo
Aqui, deixe a imaginação voar quando você não encontrar um bom argumento pessoal para combater a procrastinação. O que você ganha ao não realizar as atividades? Nada, não é mesmo? Mas, e o outro lado: quais são os benefícios: não tenha medo de pensar nas coisas boas que você ganhará a curto e longo prazo. Estamos diante de uma fantasia que só depende de você para que ela saia do papel.
A procrastinação pode ser um elefante azul na sala, mas admitir que ela está entre em nós é o primeiro passo para criar coragem de pedir, por gentileza, que se se retire. É um caminho árduo que envolve altos e algumas recaídas, mas, quando estamos falando de nossa saúde física e mental, não há tempo a perder: logo, não deixe para amanhã para cuidar da procrastinação de hoje.