SPUTNIK

Educação corporativa e infoxicação: por que sua empresa está fazendo isso errado

A cada dois dias, geramos um volume de dados que equivale ao que criamos desde o início da civilização humana até o ano de 2013, segundo Eric Schmidt, ex-CEO da Google. Só nas redes sociais, a cada minuto, são postados 347.222 stories no Instagram, 41.666.667 mensagens são enviadas por WhatsApp, quinhentas horas de vídeo são consumidos no YouTube e 404.444 horas de conteúdo da Netflix é exibido em todo o mundo, de acordo com o levantamento “Data never sleeps”

É preciso ler todos os livros do momento, ouvir todos os podcasts da moda, assinar todas as newsletters relevantes para nossas áreas de atuação. Há uma sensação constante de que estamos deixando passar algo importante. Na pandemia, a angústia se aprofundou e alastrou. Isolados, vivemos uma enxurrada de lives de todos os tipos. Das aulas das crianças às receitas culinárias, do curso de marcenaria à aula de ginástica: tornou-se impossível deixar de aprender algo. Mas será mesmo?

Uma pesquisa realizada pelo Podcast Caos Corporativo, chamada “Deus me lives: intoxicação na quarentena”, descobriu que 42% dos entrevistados afirmam que os conteúdos compartilhados eram irrelevantes, repetitivos e sem profundidade. A verdade é que, frente a tantos insumos informativos, nosso cérebro precisa definir o que é ou não significativo, para que, aí sim, possa se concentrar de forma específica. O grande X da questão, é entender de que forma podemos estabelecer o que é relevante ou não quando não estamos navegando, mas naufragando na quantidade exorbitante de dados disponível. 

Há uma palavra para isso — e ela não é nova. Em 1996, o físico espanhol Alfons Cornellá criou o termo “infoxicação” para denominar o excesso de informações ao qual somos submetidos todos os dias, produzindo ansiedade, cansaço e estresse. Tal fenômeno também é conhecido, atualmente, como “Síndrome da fadiga informativa”. 

 E o que, afinal, isso tem a ver com educação corporativa?

Soluções tecnológicas para tentar frear (ou minimizar o impacto) da infoxicação já existem. Na prática, elas trabalham para analisar e minerar os dados oferecidos de forma a selecionar os que, supostamente, seriam mais relevantes. Mas, em salas de aula, quando estamos em uma experiência educacional, há um outro problema que se apresenta: cada aluno não só aprende de jeitos diferentes como precisa de conteúdos específicos para respaldar esse processo único. Seria preciso, portanto, personalizar essas soluções.

“Empilhar” é ler todos os artigos e sites, ouvir todos os podcasts, ver todas as séries e não fazer conexões profundas… isso não muda nada! Sempre nos preocupamos em não empilhar conteúdo em sala de aula. Uma das coisas que eu converso muito, dentro dessa era do lifelong learning – termo que começamos a usar faz uns três anos para designar o processo de ser um eterno aprendiz – é: o que é aprender? Na escola, a gente não aprendeu a aprender, que é a meta-aprendizagem [análise realizada pelo indivíduo sobre o seu processo de aprendizagem]. Aprender é tudo aquilo em que a gente coloca intenção. Para eu aprender é preciso que faça sentido para mim — senão, vai virar mais um monte de referência que eu vou empilhar.”

— Mariana Achutti, fundadora da SPUTNiK, em entrevista ao Projeto Draft 

No ambiente corporativo, a personalização precisa acontecer desde o marco zero 

Para além dos cursos avulsos, focados em treinamento, é urgente desenvolver uma nova mentalidade que tenha como pilar central o aprendizado contínuo. O olhar precisa se descentralizar exclusivamente dos cursos e voltar-se às jornadas de aprendizagem.

Em meio ao mar de possibilidades educacionais, é possível — seja por robotização, seja por esforço humano — definir o que faz menos ou mais sentido para um determinado time, mas se por trás não houver um pensamento estratégico e criativo, as próprias estratégias pedagógicas não terão o efeito desejado.

Empresas que não se entenderem, dentro desse contexto, como um “Workplace learning” estarão fadadas a permanecer em um modelo de retrocesso. Olhar para o ambiente corporativo como locais constantes de aprendizagem ajuda a desenvolver as habilidades e o conhecimento que as pessoas precisam para realizar seus trabalhos, mas não só. O aprendizado também motiva as pessoas. A oportunidade de aprender e se desenvolver é o fator mais importante na felicidade do funcionário após a natureza do próprio trabalho, de acordo com uma pesquisa realizada com o LinkedIn.

“Se você quer realmente aproveitar seu trabalho, passe mais tempo aprendendo. Na pesquisa que acabamos de concluir, descobrimos que os funcionários que passam o tempo no trabalho aprendendo são 47% menos propensos a se estressar, 39% mais propensos a se sentir produtivos e bem-sucedidos, 23% mais prontos para assumir responsabilidades adicionais e 21% provavelmente mais confiantes e felizes. E quanto mais você aprende, mais feliz você se torna.”

— Josh Bersin, global industry analyst

O WPL pode se dividir, tradicionalmente, em dois campos: a aprendizagem formal ou estruturada — como ensino em sala de aula, e-learning ou MOOCs (geralmente constituídos de palestras e aulas gravadas e disponibilizadas gratuitamente) — e que orientam o aluno ou a aprendizagem informal ou não estruturada, que permite que cada pessoa aprende o que quer, quando quiser. Nesta modalidade, há uma variedade maior de recursos online, como artigos, vídeos e podcasts.

Não é incomum que os tipos citados acima se sobreponham. Um exemplo rápido: depois de uma aula presencial ou de um workshop, o professor oferece materiais complementares que podem ser acessados no tempo de cada aluno. O formato híbrido, aliás, que vai mesclando o que há de melhor nos mundos (formal e informal, síncrono e assíncrono etc.) tem se mostrado um caminho acertado já que oferece acesso a uma combinação maior de atividades, gerando, assim, mais motivação por parte de quem aprende, além de oferecer uma maior eficácia ao colocar o aprendizado em prática.

E como criar uma cultura de aprendizado dentro da organização? 

Neste vídeo aqui, da nossa head de aprendizagem, Cacá Rhenius, você aprende a diferença entre cultura e culturas de aprendizagem e também como fazê-las acontecer aí dentro da sua empresa. De qualquer forma, deixamos aqui um start, para que você, antes de tudo, comece a se familiarizar com o assunto. Bora lá?


Uma pesquisa do MindTools for Business descobriu que empresas que performavam bem nesse lugar tinham algumas características em comum. Entre elas, tornavam os recursos educacionais fáceis de encontrar (com bancos de conteúdo de aprendizado online, por exemplo), incentivavam diretamente a aprendizagem (com lembretes via e-mail ou outros tipos de atualização) e focavam em capacitar gestores — considerando que estes eram mais propensos a inspirar as pessoas a aprender.

No fim do dia (e do quarter!), focar em estratégias de criação e nutrição de um Workplace learning é uma das armas mais potentes contra a infoxicação e a superficialidade dos processos educativos recorrentes. Com uma estratégia bem consolidada de lifelong learning, é possível pensar em curadorias cirúrgicas dos conteúdos e das experiências que não só são mais relevantes para cada grupo, mas também que agreguem, entreguem valor e respondam às expectativas.

E, perceba: falamos experiências, e não apenas conteúdos. Porque para criar uma cultura de desenvolvimento consistente, que não sobrecarregue o aluno ou que por ele não seja apreciada, é importante considerar, também, aspectos sociais e emocionais dessa jornada. Trocas e interações precisam ser consideradas porque são elas que farão com que a transmissão do conhecimento continue circulando dentro da empresa. É sobre desenvolvimento corporativo. Você e sua empresa veem a diferença?

Se queremos pessoas e profissionais mais inovadores, criativos, saudáveis e felizes, precisamos incentivar o aprendizado contínuo. E, como adultos, precisamos desaprender o que nos foi imposto para aprender a aprender de novo. Workplace learning: esse é o presente das empresas do futuro. 

 

O presente das empresas do futuro