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“Coloca na nuvem”: o que você não sabe sobre o impacto da transformação digital na crise climática

Hoje, com tablets, celulares e outros dispositivos móveis, é quase um bordão afirmar que devemos poupar papel para estreitar nossos laços de amizade com o meio ambiente. Ao mesmo tempo, aposentamos os disquetes e, agora, estamos prestes a fazer o mesmo com o pendrive, já que sempre podemos resgatar a apresentação da reunião no Google Drive ou até mesmo em algum e-mail trocado entre os colaboradores do time. Mas já parou para pensar que a Era Digital pode estar transformando nossos gigabytes em emissores potentes de CO2 e de outros antagonistas do meio ambiente?

Calma, não tenha pânico: explicamos, a seguir, o que está acontecendo e de que forma podemos assumir uma atitude mais consciente, no sentido ecológico da palavra, com os nossos dados. 

Nos rastros verdes da transformação digital

Antes de partir para as más notícias, vamos reconhecer um fato: a transformação digital está nos libertando de vários vícios nocivos ao meio ambiente. Em especial, nos ajudou a ter uma relação mais líquida com a informação. Afinal, se antes tínhamos a necessidade de carregar pastas recheadas de relatórios, briefings e outros papéis, hoje isso soa antiquado. Abrir o notebook ou o tablet na reunião não é mais um sinal de quebra de protocolo ou de etiqueta. É através de dispositivos móveis que acompanhamos todas as informações que antes ficavam no papel. 

Pensar na sociedade e na resolução de seus principais problemas por meio de um olhar digital acarretou uma série de benefícios. Em seu relatório sobre o “lado b” da transformação digital, a Accenture aponta que até 2030 poderá haver a redução de 12,1 gigatoneladas de emissão dos maiores gases do efeito estufa, graças à implementação de diversas soluções digitais. Na mesma linha, o relatório Digital with Purpose também traz o potencial do legado tecnológico para o meio ambiente: até 2030, ano-chave das Metas de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, a transformação digital pode contribuir para a aceleração das metas em até 22%.

Em várias situações, podemos encontrar exemplos em que a presença da transformação digital pode impactar positivamente o meio ambiente.

Armazenamento em nuvem: O armazenamento em nuvem é considerado um dos grandes passos da transformação digital rumo a uma tecnologia verde, ou seja, mais antenada com a sustentabilidade, por meio de diversas ferramentas e práticas que implicam em redução de custos e de emissão de poluentes ou lixo eletrônico.

Cidades inteligentes: O conceito trabalha a criação de cidades que assumem uma logística digital ao desenharem estratégias de desenvolvimento urbano, econômico e social a partir da ajuda de planos de inteligência de dados e do uso de ferramentas inovadoras, como o 5G. Aplicativos no transporte urbano e coletivo e uma geografia adaptada a  serviços de entrega digital são exemplos de contextos urbanos inteligentes e que prometem trazer saldos positivos para o meio ambiente.

Internet das Coisas (IoT): Ela tem permitido o estabelecimento de redes que resolvem problemas que antes seriam quase inimagináveis de receberem uma mão da tecnologia. A agricultura, por exemplo, tem se beneficiado com a criação de sensores que monitoram processos e garantem a redução de resíduos ou de desperdício de água. O futuro dos carros autônomos estão nas mãos da IoT, uma vez que ela vai permitir a comunicação entre os veículos, estabelecendo relações no trânsito mais sustentáveis sob o ponto de vista do consumo de combustíveis.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores. Agora vamos às más notícias.

Podemos começar com o armazenamento em nuvem. Afinal, quem paga a conta desses dados? Quem garante que eles estejam sempre ali, “navegando” no ar e a um clique das nossas necessidades? É quando chegamos aos famosos data centers. Estamos falando de grandes aglomerados de edifícios que mantêm os cabos e placas de circuitos de cabos responsáveis pelo tráfego dos dados online.Regularmente, o Greenpeace divulga um relatório chamado “Click-Clean”, dedicado a estudar os impactos da transformação digital no meio ambiente, em especial aqueles ocasionados pela cultura de dados. Na última edição, a organização trouxe dados que mostram o peso de cada lado da balança quando se trata de entender a influência do armazenamento em nuvem no meio ambiente: se em 2012 a indústria de TI consumia 7% da eletricidade global, em 2017 (ano da publicação do relatório) o número já chegava a 22%. Empresas como Netflix, o relatório ainda aponta, são pouco claras quando o assunto é explicar de que forma buscam reduzir os danos do impacto de seus serviços ou, em outras palavras, como trocam o investimento em energia tradicional em alternativas mais eco-friendly. Apple e Samsung também são duas empresas que, segundo o relatório, não apresentam iniciativas fortes para reduzir os impactos negativos da transformação digital no meio ambiente.

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E agora, como é que fica? 

As empresas são algumas das maiores clientes da transformação digital. Mas olhar para os impactos da cultura digital e buscar estratégias de redução de danos pode ser um desafio quase que contraditório à existência do mundo corporativo, ainda que seja urgente um novo paradigma sobre esse relacionamento. É o que acredita o urbanista, educador e pesquisador de tecnologia Lucas Girard, que aponta que deve haver, antes de tudo, um processo para assumir responsabilidades.

“As empresas precisam assumir que são atores públicos. As corporações sentem que são privadas e que, por isso, possuem uma certa liberdade, mas elas não são menos públicas que os governos. Todos nós ocupamos o mesmo espaço, a mesma cidade, então as empresas, uma vez inseridas nelas, precisam pensar nas consequências de suas decisões como responsabilidades públicas”, explica Girard.

Os grandes players da transformação digital já estão começando a se mexer para minimizar os danos causados pela euforia tecnológica. Em relação ao armazenamento em nuvem, há uma forte discussão sobre a criação de data centers no espaço, o que reduziria a dependência de energia que hoje é necessária para mantê-los. Além disso, há iniciativas que jogam o problema para o fundo do mar — literalmente. Um grande exemplo é o da Microsoft, que já criou um verdadeiro ecossistema submarino no Mar do Norte. Já o Google, dentro do projeto Google Cloud, conta com uma área dedicada a estudar os impactos do armazenamento em nuvem para as mudanças climáticas.

Pensar sobre os impactos da transformação digital no meio ambiente pode não responder a todas as perguntas para uma redução de danos eficaz, mas pode ser o primeiro passo para a implementação de uma cultura organizacional mais consciente em relação à forma com que se relaciona com a tecnologia. Antes de tudo, no entanto, é preciso pensar qual é a ideia que a empresa tem sobre sustentabilidade e se ela atende de fato a uma atitude proativa que possa tocar na ferida do que realmente está impactando a sociedade e o meio ambiente. Vai muito além da extinção dos papéis no escritório ou da coleta seletiva semanal.

“A questão da sustentabilidade precisa ser sentida de uma forma mais ampla. Vamos pegar, por exemplo, a questão humana. Isso podemos ver facilmente nos aplicativos: uma pessoa pode deixar de usar o carro quando contrata um serviço de entrega e isso de fato ajuda em relação aos impactos do trânsito no meio ambiente, mas não temos uma infraestrutura urbana que ainda permita que o entregador do aplicativo realize o trabalho de forma segura. Ao mesmo tempo, isso também está construindo uma cultura de ansiedade, em que as pessoas querem ser atendidas quase que instantaneamente e, de novo, precisamos refletir quem vai pagar a conta disso”, reflete Girard.

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Com o Impact, desenvolvemos uma metodologia que vai ajudar empresas a assumirem uma vanguarda: a da inovação que acontece a partir de um relacionamento mais engajado com a sustentabilidade. Menos greenwashing, mais consciência verde — de verdade. Manda um alô pra gente.

O presente das empresas do futuro