SPUTNIK

Paciência e universo corporativo: vai dar match?

Pare por um segundo para respirar e pense: você já perdeu a paciência hoje? Pode confessar que, muitas vezes, a gente não consegue segurar os impulsos e aumentar a voz é o primeiro passo para cair no abismo da irritação. Quando você percebe, já está mergulhado lá, de cabeça quente. Mas e se te contássemos que ser forçado a parar e respirar para esperar pelas coisas torna as pessoas mais bem-sucedidas, você acreditaria? Uma pesquisa publicada no Journal of Organizational Behavior and Human Decision Processes mostrou que, em um mundo preparado para o imediatismo, a paciência surge como uma virtude capaz de reforçar o valor de algo e, talvez ainda mais importante, gerar mais disposição para esperar. “Existem grandes recompensas para quem pode atrasar a gratificação. Basicamente, a pesquisa ensina que paciência e autocontrole predizem sucesso na vida, pelo menos tanto quanto ser inteligente (ou seja, habilidades cognitivas).”, relatou uma das pesquisadoras.

No ambiente corporativo, muitas vezes, a paciência é vista como sinal de fraqueza. Mas as coisas estão mudando — tanto para colaboradores quanto para lideranças. E sabe por quê? Aprender a ser tolerante com os próprios erros e com os dos outros, estando aberto a ouvir antes de ser ouvido, é a chave para manter o autocontrole e cultivar o dom de alcançar aquele segundo de equilíbrio que vai impedir que a tormenta se instale no seu dia a dia. Para Fishbach, também autor do estudo citado anteriormente, “a razão pela qual isso funciona é que as pessoas aprendem sobre si mesmas da mesma maneira que conseguem entender os outros, através da observação. Nós nos observamos esperando e aprendemos que valorizamos o que estamos esperando”. 

Paciencia


O universo corporativo, atento às novas demandas sociais, já está de olho nessas nuances de comportamento. O McDonalds, recentemente, enfrentou na prática o “efeito da paciência”. Depois de introduzir em seu menu uma opção feita com carne fresca — que leva um minuto a mais para cozinhar do que um hambúrguer congelado —, teve de lidar com clientes insatisfeitos e, eventualmente, irados. A paciência, claro, se esgotou rapidamente. No entanto, uma vez que os clientes sabiam que seus hambúrgueres estavam sendo feitos de um jeito mais premium — e que havia uma razão para o atraso —, a paciência aumentava. Quer um exemplo mais antigo? Na década de 70, o ketchup Heinz ainda era vendido em garrafas de vidro, o que aumentava o tempo até que o líquido descesse e finalmente saísse da embalagem, exigindo que os consumidores dessem as famosas batidinhas para acelerar o processo e esgotassem seus estoques de paciência. A solução foi comunicar, por meio de uma paródia com um hit musical de sucesso da época, o porquê da espera. Com o slogan “It’s slow good”, aumentaram a confiança subjetiva dos consumidores, garantindo que a demora era graças a espessura do produto estar ligada a uma qualidade superior. Resultado? Pessoas menos irritadas com suas “gratificações tardias”

Paciência tem limite? Sim, mas isso não significa esgotá-la rapidamente

A gente cresce ouvindo dos nossos pais: “olha que minha paciência tem limite”. E o que parecia apenas uma ameaça depois de alguma pirraça boba ou má resposta se transforma em uma crença que muitos de nós custa a identificar — e os vestígios dessa paciência que acaba bem rapidinho vai passando de geração para geração. Não é de se admirar que cada um de nós carrega a impaciência quando vai para seus ambientes de trabalho. Tudo pode estar calmo e, em questão de segundos, a nossa vulnerabilidade é colocada em xeque e toda a performance é prejudicada porque nos vemos fora da nossa zona de conforto, a ponto de explodir.

Mas espera! Respira beeeem fundo: seu cérebro precisa de um tempinho para recobrar o controle dos pensamentos antes de você começar tudo de novo (ou jogar tudo para o alto).

Sem paciência, uma simples conversa vira discussão, um argumento contrário na mesa de reunião pode levar todo o time a declarar guerra e, no final dela, todo mundo sai perdendo junto. Assim como a paciência, o autocontrole também atinge um limite que vai diminuindo conforme o uso, como mostrou um estudo da Universidade de Iowa liderado pelo neurocientista William Hedgcock. Em resumo, ele descobriu que o cérebro, quando identifica uma situação em que vamos precisar de autocontrole, nos manda um alerta do tipo “ei, existem várias respostas para isso, e algumas delas podem não ser boas”, enquanto o seu córtex pré-frontal vai sendo estimulado a cada esforço para resolver o caso, sinalizando que a paciência está no fim; é quase uma placa vermelha dizendo “perigo à frente” e você é a única pessoa que pode optar por uma atitude impensada ou manter a cabeça fria para tomar as melhores decisões. “Depois que a piscina (da paciência) secar, é menos provável que nos refresquemos na próxima vez que enfrentarmos uma situação que exige autocontrole porque leva tempo para enchê-la novamente”, concluiu Hedgcock.

Paciência flerta com boa convivência

Conviver harmoniosamente dentro do ambiente de trabalho é uma troca diária, que pode ser intensa, turbulenta, ou simplesmente pacífica. Concorda?

Na SPUTNiK, a gente acredita que tem como construir essa troca de diferentes formas para dar um Match sempre baseado no diálogo, para fazer todos os corres cotidianos, e isso inclui um tanto de inteligência relacional e mais um tanto de paciência. Muita gente (ok, quase todo mundo) quer gratificações instantâneas sem esperar muito: um aumento de salário, ser promovido, lançar um produto inovador. Mas qual é o custo desse imediatismo?

Você pode se desafiar a reduzir a velocidade – dentro e fora do escritório – dia após dia, como um treinamento mesmo, e conhecer uma pessoa paciente que você nunca imaginou ser. Tudo vem com a prática, e uma pesquisa publicada no Psychological Science Journal revelou que quando você se convence a esperar por algo, você na verdade vai se sentir mais feliz a longo prazo porque aprende a trabalhar sua paciência. Outra dica que pode parecer assustadora é aprender a dizer não ao que vai atrapalhar a sua rotina de atividades, causar stress ou te deixar impaciente — e se você for o líder do seu time, essa impaciência pode afetar a performance dos demais. Isso é um dos malefícios de ser multitasking por exemplo, e é frustrante ver que não estamos progredindo porque às vezes não identificamos fatores simples que se colocam no meio do caminho: terminar uma tarefa antes de começar a outra é um bom começo para evitar esse rush sem fim.

Take it easy and slow down

Criatividade, produtividade, colaboração, qualidade e até a sustentabilidade das empresas. Tudo isso sofre os efeitos positivos da paciência no universo corporativo, e mais do que isso, no que o mercado atual exige de nós. No InSANO, tocamos na ferida da crise psicológica que precisa ser diagnosticada nas empresas para salvar seus colaboradores do caos para trabalhar feliz de verdade. E falar de paciência nesse contexto de descobertas saudáveis e produtivas tem tudo a ver com a melhoria da cultura organizacional, em que o espaço para a paciência tem de estar reservado em meio aos resultados tangíveis e decisões imediatas. Profissionais que praticam a paciência constroem melhores soluções para problemas, o que conduz a negociações bem-sucedidas e conquista de (auto)confiança. Quer um exemplo? Bill Gates, o homem por trás da grandiosidade da Microsoft, dá um stop na sua agenda duas vezes por ano para pensar no futuro da empresa em uma espécie de retiro que ele chama de “Think Week”. Ano passado, Gates se aventurou numa cabana no meio de uma floresta em algum lugar do Noroeste Pacífico para ler milhares de textos escritos por seus colaboradores, e em 1995, foi num desses momentos consigo mesmo que ele desenvolveu o Internet Explorer, o início do que entendemos hoje como navegador online. É ou não é uma boa prática trabalhar a paciência para conquistar a inovação?

A paciência é uma virtude – já dizia o sábio poeta inglês William Langland em 1360, no seu poema sobre um homem em busca de sua fé –, e não poderia ser diferente quando você se vê no seu ambiente de trabalho agora em 2020, em meio a tantas demandas e responsabilidades: sai ganhando quem consegue desenvolver a habilidade estratégica de parar e refletir antes de decidir qualquer coisa. Tudo muda quando os profissionais entendem que está tudo bem esperar para ver o que acontece, e enquanto isso simplesmente não fazer nada a respeito, e é assim que as organizações estão se reinventando. Cabe aqui dizer que, por incrível que pareça, a origem da paciência é a palavra que, em latim, define “sofrer, aguentar”, mas no mundo corporativo ela se ressignificou como tolerância, antes mal vista por também carregar o peso da passividade, hoje admirada porque representa evolução. Há tempos, paciência deixou de ser sinônimo de complacência quando se trabalha em equipe cedendo lugar ao entusiasmo de conseguir refletir melhor antes de seguir adiante, sozinho ou em grupo, rumo a qualquer que seja o objetivo que leve ao progresso. Agora, ser impaciente às mudanças é uma exceção que você pode abrir para conseguir enxergar além, aprender com os erros e esperar calmamente pelo que vem por aí. E pode ter certeza: quando você relaxa e respira fundo várias vezes, bem devagar, tudo parece mais fácil, e se isso deixa a gente mais feliz e preparado, vale a pena tentar.

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O presente das empresas do futuro