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Igualdade X Equidade: existem diferenças entre os termos e você precisa conhecê-las



Somos todos iguais perante a direitos fundamentais de existência, mas não carregamos as mesmas oportunidades. Ter a consciência de que estamos inseridos em uma sociedade calcada pela desigualdade, inclusive, é primeiro passo para a mudança. E os demais, quais são? Com o Plural, fazemos questão de pôr o dedo na ferida. Afinal, estamos em uma época dominada pelas mudanças céleres da transformação digital, mas precisamos, acima de tudo, quebrar muros que, para a SPUTNiK, já não faz mais sentido que ainda existam. Aqui, mostramos quais são as marretas que precisamos usar para quebrá-los. 

A seguir, fazemos um convite para conhecer uma balança que é muito importante para mensurar as estruturas desiguais que ainda moldam as nossas relações. Igualdade e equidade são duas palavras que encantam, mas confundem muita gente, e está mais do que na hora de conhecer as diferenças que carregam dentro de si.

Igualdade versus Equidade: recorrendo ao dicionário

E se contarmos que o feminismo e outros movimentos sociais que lutam por minorias estão, na verdade, lutando por equidade, e não por igualdade?

É muito comum haver uma confusão entre igualdade e equidade. Um conceito está associado a uma condição ideal e teórica; o outro, por sua vez, corre atrás da reparação dos problemas causados pelo fato de, quase sempre, essa teoria não sair para a prática.

Trocando em miúdos, podemos pedir ajuda para o senhor Dicionário: Lá, encontramos as seguintes definições para cada um dos termos:

Igualdade: sf

1. Qualidade daquilo que é igual ou que não apresenta diferenças; identidade.

2. Conformidade de uma coisa com outra em natureza, forma, proporção, valor, qualidade ou quantidade.

3. Nivelamento ou uniformidade de uma superfície.

4. MAT Expressão da relação entre duas quantidades iguais; equação.

5. Identidade de condições entre os membros da mesma sociedade.

6. Qualidade que consiste em estar em conformidade com o que é justo e correto; equidade, justiça.

Ainda segundo o dicionário, a etimologia da palavra vem do latim aequalitas, associada a um estado e a uma condição de coisas iguais. Isso podemos ver facilmente nas operações matemáticas quando a presença do sinal “=” representa que temos nos dois lados da equação, valores que, calculados entre si, precisam chegar ao mesmo resultado. 

Agora, vamos consultar o dicionário para conferir o que significa equidade: 

Equidade:

  1. Consideração em relação ao direito de cada um independentemente da lei positiva, levando em conta o que se considera justo.
  2.  Integridade quanto ao proceder, opinar, julgar; equanimidade, igualdade, imparcialidade, justiça, retidão.
  3.  Disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um.”

Ainda, encontramos a etimologia da palavra no latim aequitas, que remete a uma capacidade de apreciar e julgar com imparcialidade e justiça, o que significa implementar ações que corrijam situações de desigualdade. É a palavra-chave, portanto, que precisamos utilizar para buscar ações que combatam exclusões e outros prejuízos que ocorrem pela diferença dos diversos grupos que compõem nossa sociedade. Pois em um mundo ideal, viveríamos equações sociais regidas pela igualdade. Mas para isso, precisaríamos encontrar uma sociedade em que todos saíssem do mesmo lugar. E sabemos que não é bem assim. Afinal:

  1. Ainda enfrentamos a desigualdade de gênero: temos uma população em que 50% da população é composta por mulheres. No entanto, elas ainda ganham menos em todas as ocupações. Segundo uma pesquisa do IBGE, há uma diferença de 20,5% entre salários de homens e mulheres no Brasil. E, globalmente, apenas 16% das mulheres ocupam cargos de liderança em empresas de diversos países. 
  2. Temos uma sociedade que fecha as portas para a população LGBT: se não há muitos dados sobre a inserção da população LGBT no mercado de trabalho, o Brasil é um dos países que mais comete assassinatos motivados por homofobia e transfobia. 
  3. Vivemos em um país que ainda não fechou as feridas do racismo: no plano social, econômico e político, observamos situações críticas que apenas marginalizam a população negra no Brasil. No mercado de trabalho, é camada da sociedade que mais enfrenta o desemprego. Para sermos mais exatos, ela compõe 64% da população que não consegue um trabalho. 
  4. Não estamos preparados a incluir idosos e pessoas com deficiência: Entre outros fatores, observamos que a crise econômica está levando pessoas acima de 50 anos de volta ao mercado. Mas há uma grande dificuldade de recolocação para elas. E, da mesma forma, também encontramos uma lacuna de interesse para compreender a inserção, e a exclusão, de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 


Dessa forma, temos dados que justificam porque a equidade é um caminho para implementar ações que, de certa forma, tragam um equilíbrio maior à balança, trazendo, para o lado da igualdade, pessoas que não tiveram acesso a diversas oportunidades e que, com iniciativas reparadoras, podem chegar perto, e, de preferência, ao lado, daqueles que sempre estiveram rodeados por privilégios.

Foco na equidade: como colocá-la em prática — e sem erros?

“Não basta tirar para o baile. Tem que convidar para a dança”. Esta expressão famosa é muito utilizada quando falamos sobre a necessidade de incluir, de fato, minorias que ainda não ocupam diversos espaços da sociedade. E esse processo de inclusão só é possível, muitas vezes, por meio de estratégias diversas de equidade. Enquanto não há uma receita de bolo pronta para implementá-las, trazemos alguns inputs que podem ajudar:

  1. Em primeiro lugar, traga pluralidade para a conversa: convide pessoas que possam trazer insights para o tema que realmente farão a diferença. Não possui uma ala de inclusão e diversidade na empresa? Não acredita que está na hora de criá-la? 
  2. Incentive processos seletivos às cegas — e que explore aptidões que vão muito além da técnica: Com a transformação digital, a gestão de recursos humanos ganhou uma importante aliada. Aqui, questionários criativos, que trabalhem habilidades que vão muito além da hard skills, e que, ao mesmo tempo, não evidenciem as origens sociais e de formação dos concorrentes, é um caminho para uma implementação indireta de equidade, já que diminuem os famosos privilégios de cor e de classe tão presentes nos modelos conservadores de contratação. 
  3. E, se o processo não é às cegas, incentive a criação de cargos que tragam mais diversidade para as empresas: Mas se sua empresa ainda estiver engatinhando quando o assunto for a implementação de ferramentas tecnológicas para contratações às cegas, abrace as cotas sem medo. Verifique as posições estratégicas em que há o famoso padrão homem-branco-heterossexual. Permita que, no ato da inscrição, candidatos valorizem suas origens minoritárias. E, principalmente, pratique a equidade em sua excelência ao abrir vagas exclusivas para grupos que, quase sempre, começam em desvantagem na corrida por uma vaga no mercado. 
  4. Realize ações de Team Building voltadas para a conscientização da equidade: Se o processo de equidade pela inserção de grupos diversos começa nos processos seletivos, ela não termina ali. Ações de Team Building que enfatizem a presença e as mudanças que devem ser feitas graças a um grupo mais diversificado, devem trazer à tona processos de cuidados e de práticas de respeito às diferenças. Aqui, o encontro de mundos diversos só vai gerar um ganha-ganha se houver o compromisso, de fato, de incluir profissionais que, lá atrás, por vezes estiveram atrás na corrida mas, uma vez no time, terão sua vez de subirem no mesmo lugar do pódio dos seus demais colegas.


É incômodo, e quase indigesto, saber que somos a favor da igualdade de direitos, mas ainda vivemos em uma sociedade que precisa de medidas de equidade para a reparação de justiças diversas. Afinal, isso significa que ainda estamos muito longe do ponto de chegada do que entendemos como uma sociedade justa, benéfica e saudável para todos. Mas estar disposto a arregaçar as mangas já é uma atitude que ajuda a roda a voltar a engrenar. Hoje, falamos mais sobre diversidade nas empresas e encontramos uma percepção cada vez maior da importância de cotas em processos seletivos, ou da busca por profissionais que fazem parte de grupos que, embora estejam na base da sociedade brasileira, ainda estão ausentes dos principais espaços de criação e de produtividade do mercado. Enquanto a igualdade que queremos ainda for uma teoria abstrata, “ninguém solta a mão de ninguém” é um mantra que deve nos acompanhar em todas as lutas para que a chama da equidade resista acesa e traga mais cor e diversidade para a dança. 



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